Ilustração de Sergio Fabris presente no encarte do DVD Panorama do Choro Paulistano Contemporâneo |
Em 1953, desgostoso com a falta de prestígio e com o “rareamento de quintais”, Jacob do Bandolim declarou publicamente que o choro estava fadado a desaparecer em, no máximo, dez anos. Morto em 1969, o bandolinista e compositor jamais poderia supor que sua previsão sobre a longevidade de um dos primeiros gêneros musicais urbanos essencialmente brasileiros falharia, e por muito. Alheio a modismos e a imposições mercadológicas - tal qual o samba de Nelson Sargento, que, em movimentos cíclicos da história, pode até agonizar, mas não morre -, o choro resiste e perdura. Por quê? Simples: porque muitos de seus criadores respeitam a tradição, mas jamais se furtam do frescor, da renovação e da reinvenção de seu tempo.
Desde seu surgimento no Rio de Janeiro, o choro nunca se limitou ao território fluminense e se esparramou por todo o Brasil, absorvendo toda a sorte de sotaques. Uma das praças de maior efervescência chorística do país, São Paulo já havia comprovado essa rica produtividade com dois discos do Panorama do Choro Paulistano Contemporâneo, idealizados pelos percussionistas e produtores Roberta Valente e Yves Finzetto e lançados nos anos de 2009 e 2015. Faltava a um projeto dessa envergadura um registro audiovisual à altura de sua importância. Agora, felizmente, não falta mais.
Se no passado, graças aos discos, os ouvintes puderam ter a sorte de conhecer grandes nomes que São Paulo deu à música - como Garoto, Zequinha de Abreu, Bonfiglio de Oliveira, Esmeraldino Salles, Orlando Silveira, Antonio Rago, Poly, Laurindo Almeida, Dilermando Reis, Antonio D’Áurea, Paulo Moura, entre outros -, agora, com este DVD, o mundo ganha um documento histórico daquilo que há de mais relevante no choro paulistano nas primeiras décadas do século 21.
São 15 composições (algumas delas feitas especialmente para o projeto) de autores que nasceram em São Paulo e/ou fixaram morada no Estado mais populoso do país. De Laércio de Freitas a Danilo Brito, de Nailor Proveta a Thiago França, de Izaias Bueno de Almeida a Alessandro Penezzi, passando por Luizinho 7 Cordas, Everson Pessoa, Maurilio de Oliveira, Toninho Ferragutti, Zé Barbeiro, Arnaldinho Silva, Edmilson Capelupi, Milton Mori, João Poleto, Israel Bueno de Almeida e Edson José Alves.
Como se não bastasse a beleza dos temas e dos arranjos, as músicas contam ainda com as participações de alguns dos autores e com as interpretações magistrais do Sexteto Panorama - Roberta Valente e Yves Finzetto (pandeiro e percussão), Alexandre Ribeiro (clarinete e clarone), João Poleto (sax tenor e flauta), Henrique Araújo (cavaquinho e bandolim) e Gian Correa (violão 7 cordas) - um verdadeiro “dream team”, (ops, o nacionalista Jacob que não nos ouça), um time dos sonhos do choro de São Paulo. A música brasileira agradece.
Por: Lucas Nobile, músico e jornalista - Fonte: https://www.sescsp.org.br/online/
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