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22 de junho de 2020

Abre a Roda Mulheres no Choro lança novo projeto cultural e o primeiro episódio nos chega "Falando de Maxixe".


O Abre a Roda Mulheres no Choro acaba de lançar seu novo projeto: o Abre a Roda nas Redes. Com ele, o coletivo  propõe nos trazer um pouco do universo da música e do Choro através de textos, vídeos e lives.  Serão conteúdos elaborados através de muitas pesquisas e da vivência de mulheres musicistas com vontade de trocar experiências e exercer o protagonismo feminino nessa rede virtual.

No primeiro episódio do Abre a Roda nas Redes, a bailarina, musicista e artista cênica, Bárbara Veronez nos conta sobre o Maxixe, essa dança jubilosa que faz o corpo escorregar e se entregar.
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FALANDO DE MAXIXE  
Por: Bárbara Veronez

"Dizem, e acredito, que nada se perde. Tudo se transforma. E a história do Maxixe é um exemplo disso. Ela percorre um arco de acontecimentos que vai dos batuques de Lundu do Brasil Império a Michel Teló e o Vanerão Gaúcho".


Vou contar pouco dessa dança buliçosa, já que o corpo se encarrega e entrega. Você vai sentir movimentos involuntários em seus quadris ao som dos choros maxixados de Chiquinha Gonzaga e através de registros de casais insinuando saracoteios pelos salões e clubes carnavalescos da Belle Époque brasileira.

Para começar, é preciso lembrar de alguns antecedentes, ou melhor, ingredientes do Maxixe. Um deles, o Lundu, era uma dança africana introduzida por mulheres e homens negros de Angola, trazidos ao Brasil como escravos. No século XIX já era uma dança brasileira, ligada mais ao meio rural e com algumas modalidades diferentes, dentre elas, a dança de roda onde todos participavam cantando, dançando e batendo palmas. Era um ritmo jocoso e sensual e com o tempo passou para a forma de música urbana adentrando de forma mais comedida os salões de dança. O lundu-canção era apreciado nos circos, casas de chope e salões do Império. Foi o primeiro gênero musical gravado no Brasil e seu legado principal foi o Maxixe, ritmo sincopado, uma outra forma musical híbrida e urbana que deve também suas origens a Polca e a Habanera.

"O maxixe" - Fotografia de Édouard Stebbing - 1910 
Especula-se que o ritmo do Maxixe também teve influência de uma dança e canto do sul de Moçambique e que de lá derivaria seu nome por existir uma cidade moçambicana chamada, justamente, Maxixe. Até hoje, o padrão rítmico e os movimentos ondulatórios do tronco e quadris da Marrabenta (dança moçambicana) guarda semelhanças com os padrões do Maxixe.

Chiquinha Gonzaga, filha de um militar do Império e uma mulher negra, foi educada para ser uma dama da corte, frequentando e conhecendo de perto a música clássica e as danças europeias de salão. No entanto, frequentava as escondidas os clubes de música do Rio de Janeiro e os terreiros de Lundu. De forma muito original, mesclou ritmos das principais músicas de salão e entretenimento da época como a Polca, Mazurcas, Valsas e Quadrilhas com os sons das ruas do Rio.

Além de ter sido a dança da moda até o início do século XX e ter influenciado o Samba, o Maxixe absorveu as tendências do Tango que despontava na Argentina e Uruguai. Por esse motivo, mas não só por isso, o apelidaram de “tango brasileiro”. Por ser uma dança de caráter sensual, foi alvo de preconceitos por parte da sociedade que a julgava indecente e contrária aos bons costumes. Foi considerada escandalosa e excomungada pela Igreja, perseguida pela polícia e educadores. Então, para que pudessem ser tocadas em casa de família, as partituras de Maxixe eram chamadas pelo nome de "Tango Brasileiro".

O preconceito fez com que a dança fosse excluída do repertório das danças sociais de salão e se popularizasse através dos clubes carnavalescos e do teatro de revista ou teatro musicado, operetas de caráter satírico para as quais Chiquinha, dentre outros músicos, compunham a trilha. Os grupos de choro e bandas de música foram, sem dúvida, grandes criadores e divulgadores do Maxixe.

O Maxixe influenciou os primeiros compositores de Samba que até hoje preserva muitas de suas estruturas rítmicas e está presente também em uma variedade de passos do samba de gafieira, samba de breque e samba-choro. Até o surgimento do Samba, o Maxixe foi o gênero dançante mais importante do Rio de Janeiro.

A Lambada também deve algumas contribuições de estilo ao Maxixe e até hoje no Pará, na Ilha de Marajó se dança uma variação mais comportada do Lundu, o Lundu Marajoara, semelhante em boa medida ao modo de dançar o Carimbó (esse de origem indígena), porém todos os estilos parecem se comunicar! E até o Frevo de Rua pernambucano teve o Maxixe como uma das principais influências!

E onde entra Michel Teló nessa história toda... Em 1995, o próprio, junto ao Grupo Tradição popularizou a Vanera a nível nacional. O Maxixe ressurgiu com força total nas periferias de Porto Alegre e nos bailes tradicionais gaúchos onde predominava o Vanerão. Começaram então a rebolar e adaptar o seu ritmo ao som da sanfona. As pessoas achavam a dança engraçada e a imitavam, surgindo assim o modo gaúcho de dançar o Maxixe.

Vai que essa moda pega mais uma vez. Rodas de choros, domingueiras de Dança de Salão, Bailes de Gafieira. Depois de tanto tempo em isolamento social, dançar junto será um dos melhores temperos para encurtar as distâncias! Amaríamos ver uma cidade inteira a dançar e, sem dúvidas, nos sentiríamos muito honradas em embalar cada passo!

Numa parceria com o site do Clube do Choro de BH os próximos conteúdos do Abre a Roda nas Redes também serão disponibilizados por aqui. Fiquem atentos e acompanhem.