Abrindo o Palco Carinhoso Especial Dia das Mães, o Clube do Choro de BH tem a alegria de receber um trio talentoso de jovens instrumentistas: Mariana Bruekers (Flauta), Lucas Carvalhais (Violão) e Anderson Costa (Saxofone) que escolheram uma das mais belas canções da história do Choro para esta homenagem: a valsa “Rosa”, composição do mestre Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha.
Que todas as mães possam receber neste dia, o perfume musical que emana desta melodiosa homenagem.
"ROSA" E SUAS CURIOSIDADES
"Rosa" é um primor tanto na versão original, sem letra, quanto na versão mais conhecida com letra de Otávio de Souza. Além da beleza ímpar, a música possui algumas curiosidades.
Segundo o próprio autor, a valsa foi composta em 1917 e o título original era “Evocação”, só recebendo letra muito mais tarde. Como manda a regra e a tradição do chorinho, a música foi composta em três partes. Mais tarde, recebeu letra apenas para primeira e segunda partes e foi gravada e regravada muitas vezes dessa forma. Há alguns anos atrás, a versão original, em três partes e sem letra, foi regravada para o box “Choro Carioca, Música do Brasil” lançado pela gravadora Acari.
“O autor dessa letra é Otávio de Souza, um mecânico do Engenho de Dentro, bairro carioca, muito inteligente e que morreu novo.” (Pixinguinha)
A letra de “Rosa” é um capítulo à parte. Rebuscada, parnasiana e lindíssima foi composta pelo improvável Otávio de Souza, um mecânico de profissão que morreu jovem e nunca compôs nada parecido com “Rosa”. Um compositor de uma única música, uma obra prima.
Conta a lenda que Otávio de Souza se aproximou de Pixinguinha enquanto o mestre bebia em um bar do subúrbio carioca para falar que havia uma letra que não saía de sua cabeça toda vez que ouvia a valsa. Pixinguinha ouviu e ficou maravilhado.
A gravação feita por Orlando Silva foi a responsável pela popularização de “Rosa”, com erro de concordância e tudo no trecho “sândalos dolente”. Francisco Alves e Carlos Galhardo deixaram de gravar “Rosa” por terem se recusado a gravar “Carinhoso” destinado ao Lado A do mesmo disco. Sobrou, então, a valsa para Orlando Silva, que lhe deu interpretação magistral.
“Rosa” é uma linda valsa de breque, mas de difícil interpretação vocal, especialmente para o uso de legatos, já que as pausas naturais são preenchidas por segmentos que restringem os espaços para o cantor tomar fôlego. Quanto à letra, é também um exemplo do estilo poético rebuscado em moda na época. O desafio de regravar “Rosa” foi tentado por alguns intérpretes, sendo talvez o melhor resultado obtido por Marisa Monte, em 1990, com pequenas alterações melódicas..
Outra curiosidade é que “Rosa” era a canção preferida da mãe de Orlando Silva, Dona Balbina. Após sua morte, em 1968, Orlando Silva jamais voltou a cantar a canção pois sempre chorava. ¹
O Jornalista e pesquisador, Luis Nassif, em um dos seus artigos sobre a música brasileira, nos aponta que “um dos grandes enigmas da música brasileira é sobre o verdadeiro autor da letra de Rosa, música de Pixinguinha. A música está registrada em nome de Otávio de Souza (...)
Mas, devido ao rebuscamento da letra, parte dos historiadores atribui a Cândido das Neves, autor de canções românticas, rococós e inesquecíveis. A prova seria outra música de Cândido das Neves, uma suposta parceria com Pixinguinha, mas registrada apenas em nome de Cândido. Seria a prova da troca que fizeram.
Tenho cá para mim que essa hipótese é profundamente desrespeitosa para com Otávio de Souza, mas, principalmente, para com Cândido das Neves. Este era rococó, mas suas letras mantinham coerência.
O non sense da letra de Rosa lembra muito mais um poeta menor que se encantou com os volteios de Cândido das Neves, copiou seu estilo, mas sem dispor de seu talento”².