Cordão no Carnaval do Rio Antigo. Ao centro, agachado, de camisa branca e gravata, o compositor Sinhô.
Está chegando mais um Carnaval, mas a folia é muito melhor com uma boa trilha sonora. Antes mesmo dos sambas-enredo e os trios elétricos se tornarem as estrelas dessa festa, eram as marchinhas que alegravam os foliões. Com uma origem que remete ao final do século XIX, o gênero foi criado a partir da cadência da marcha portuguesa. As marchinhas já foram conhecidas como as caricaturas da sociedade brasileira: as letras maliciosas e divertidas, têm um humor declarado e retratam os costumes e a história do país no século passado. O politicamente correto não tem espaço, não existe tema proibido, as frases de duplo sentido são bem-vindas e qualquer tema sério se transforma em uma grande brincadeira.
Chiquinha Gonzaga. Compositora da primeira marchinha de Carnaval. |
Nos bailes mascarados dos salões, a elite dançava ao som de polcas, habaneras, quadrilhas, valsas e mazurcas, enfim, dos gêneros de dança de salão da época. Nas ruas, o povo se divertia com a percussão do zé-pereira, o som de baterias cadenciadas e canções reaproveitadas: cantigas de roda, hinos patrióticos, chulas, trechos de óperas, árias de operetas, fados lirós, quadrinhas musicadas na hora e até marcha fúnebre. É certo que ranchos e cordões, na virada do século XIX para o XX, já se utilizavam de certas canções, inclusive um tipo de marcha apropriada no andamento, e bradavam também a palavra de ordem para abrir passagem na multidão. Mas uma música especialmente concebida para a festa não ocorrera a nenhum compositor.
Chiquinha Gonzaga fixou definitivamente o gênero ao criar a canção carnavalesca. Com isso ela se antecipou em 18 anos, pois só a partir de 1917 o carnaval passaria a ter música regularmente.
Incapaz de prever o que a posteridade reservava à sua singela marchinha, Chiquinha a incluiu na peça de costumes cariocas Não venhas!…, representada no Teatro Apolo em janeiro de 1904. Logo publicada por seu editor como ‘dobrado carnavalesco’, servia ao enredo da peça como o maxixe do cordão Terror dos inocentes. Só em 1939, quando a jornalista Mariza Lira preparava a primeira biografia da compositora, Ó abre alas foi publicada na sua integralidade, já reconhecida como pioneira. E assim, mais uma vez Chiquinhanha Gonzaga se apresenta como uma mulher à frente so seu tempo e promotora de registros históricos para a alma da música brasileira.
Fonte de consulta: Acervo Digital Chiquinha Gonzaga
Em BH, o "Rancho Carnavalesco Memórias Cantando" estreia no próximo sábado, celebrando os sucessos dos velhos Carnavais.
Programado para estrear no próximo sábado (6), o Rancho Carnavalesco Memórias Cantando pretende celebrar os velhos tempos com as músicas que embalaram os antigos Carnavais. O evento terá início a partir das 14 horas, na Rua Sapucaí, em frente ao número 527, no bairro Floresta.
Organizado pelo Regional Mineiro, formado pelos músicos Artur Padua, Daniel Capu, Mateus Fernandes e Roberto Amaral o rancho contará com outros músicos convidados e propõe relembrar marchas e sambas de Carnaval de compositores como Chiquinha Gonzaga, Lamartine Babo, Braguinha, Pixinguinha, Wilson Batista, Haroldo Lobo, Zé Keti, entre outros.
Programe-se para a folia: vista sua fantasia, reserve serpentinas, confetes e leve muita alegria.
Dircinha e Linda Batista - "Ó abre alas" - Chiquinha Gonzaga
"Ó abre alas" foi o primeiro grande sucesso carnavalesco do Brasil. Composta em 1899, a pedido do Cordão Rosa de Ouro, que ensaiava nas proximidades da residência de Chiquinha Gonzaga, essa “marcha carnavalesca”, constituiu a maior atração do Carnaval daquele ano e se manteve nos cinco anos seguintes como campeã absoluta desse festejo popular.