No mês em que comemoramos o Dia Internacional do Choro, este genuino gênero musical brasileiro foi pauta nos principais veículos de comunicação. O Jornal Estado de Minas dedicou um espaço para tratar do assunto e nos trouxe, no dia 24 de abril, a excelente matéria que reproduzimos abaixo.
Choro atrai atenção de jovens em BH mesmo com oferta restrita de cursos
Gênero brasileiro por excelência é ensinado por apenas uma escola na cidade ou por professores particulares. Universidades também ensinam, porém restrito aos alunos.
Não que seja muito difícil, mas quem quer aprender a tocar choro em Belo Horizonte conta com apenas dois caminhos atualmente: procurar aquela que provavelmente é a única escola especializada da cidade (Brasil com S) ou encontrar um professor particular.
O Clube do Choro da capital mineira seria uma opção, mas não promove cursos há quase 10 anos. Fora isso, aprende-se em instituições como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), mas só seus alunos têm acesso a essas aulas, que são disciplinas optativas.
Mesmo assim, o choro vive. A cena da cidade não é enorme e os músicos se conhecem – muitos tocam juntos em mais de um grupo, inclusive. “O movimento está crescendo e me surpreendo com a quantidade de jovens de vinte e poucos anos ou menos tocando e até compondo. Eu mesmo tenho um aluno de 16 anos que estuda desde os 9 e já foi premiado. O choro é uma música muito envolvente, alegre e melódica”, diz Lígia Jacques, professora de canto (voltado para o gênero) da Brasil com S.
Comandada por Hudson Brasil, que é professor de bandolim, a escola oferece também cursos livres (em grupo ou individuais) de instrumentos como violão e cavaquinho e de percussão e chegou a promover festival de composição de choro durante três dias, quando recebeu mais de 100 inscrições de todo o estado. Fora de lá, é pelo boca a boca que se encontra um professor, como o violonista Geraldinho Alvarenga, um dos fundadores do grupo Sarau Brasileiro e que também ensina a tocar cavaquinho e bandolim.
Atualmente, ele atende cinco alunos em sua casa. “Dou aula formando repertório. Começamos num nível mais simples, tocando serestas e música popular. Depois é que entramos no choro, estudando peças mais difíceis. Choro do Pixinguinha, por exemplo, exige mais do aluno. Tocar choro não é fácil, exige dedicação. Demora uns dois anos, pelo menos”, diz. Ele começou a dar aulas na escola na Música de Minas, nos anos 1980, em Belo Horizonte.
O cavaquinista Dudu Braga, que se reveza entre os grupos Flor de Abacate, Copo Lagoinha, Clube do Choro de Betim e a banda da cantora Aline Calixto, encaixa em sua agenda o atendimento a oito alunos. “A demanda é grande e tem muita gente querendo estudar mesmo, pois o mercado está exigindo. Todo mundo sempre ficou pegando dicas, mas hoje as pessoas correm atrás de conteúdo. O choro exige muito”, conta. Muitos chegam com o desejo de tornar-se “velocistas”, mas o professor sempre pisa no freio. Não por acaso, completa, os bons acompanhadores estão se tornando raros (e os solistas, abundantes).
ENCONTROS Às sextas, durante a hora do almoço, muitos funcionários e alunos da Uemg gostam de ficar pelo pátio para pegar carona nas lições de Marcelo Pereira, professor de flauta e sax da escola de música local. Intitulada de “Roda de choro”, a aula é justamente isso: 18 alunos de instrumentos variados se reúnem para tocar choros durante quase duas horas. “Distribuo partituras, trocamos algumas informações e tocamos. É algo mais solto. O objetivo é simular uma roda tradicional e dar oportunidade aos alunos de participar, mesmo com pouco conhecimento”, diz.
Pereira começou a organizar essas rodas em 2004, de maneira informal, e logo começaram os convites para tocar em eventos da universidade. A iniciativa virou disciplina na grade curricular em 2010, procurada inclusive por instrumentistas menos frequentes em grupos de choro atuais, como baixistas, violoncelistas e violinistas.
Na UFMG, a abertura da escola de música para o choro começou em 2004, quando o professor de trombone Marcos Flávio passou a ministrar a cadeira de Práticas interpretativas do choro. “Os instrumentistas eruditos sempre procuraram muito essa disciplina. Quando começou o curso de música popular, em 2009, os alunos de lá também passaram a procurá-la. Costuma ter fila de espera”, relata. Atualmente, ela não é oferecida porque Flávio está fazendo doutorado (sobre o trombonista Zé da Velha), mas retornará à grade tão logo ele termine seu compromisso.
“Quem toca música instrumental tem de saber choro. Não precisa ser chorão, mas é porque é a música instrumental originalmente brasileira. Do contrário, seria como o norte-americano que não sabe tocar jazz. Seria um absurdo chegar no exterior e não saber tocar 'Tico-tico no fubá', não saber quem foi Pixinguinha. O choro foi o início de tudo aqui e é um gênero que valoriza o músico, todo mundo que toca é admirado, valorizado. Demanda técnica muito apurada”, avalia o professor. A UFMG também oferece disciplinas optativas focadas no clarinetista Paulo Moura e no compositor Moacir Santos relativas ao choro.
Mauro Rodrigues, professor da Escola de Música da UFMG, não vê necessidade de criar uma escola só de choro e reconhece a importância da abertura ao gênero que as instituições de ensino têm feito no país nos últimos anos: “Particularmente, vejo a música popular como algo mais amplo. Há demandas diversas, que vão além da realidade do choro. Sobre o ensino universitário do choro faz sentido, pois temos uma música popular muito rica e sofisticada e seria estranho se ele não existisse. E escola é local de encontro, sendo que esse contato gera linguagem musical, inclusive”.
OS MESTRES
Professor de flauta, é considerado o criador do choro. Reunia músicos (como Chiquinha Gonzaga) para tocar sem repertório ou formação definidos.
Pianista, atuou em bailes, rádios e salas de cinema. Uniu classicismo europeu a ritmos populares, dando origem a formas como a polca-lundu.
Pixinguinha (1897-1973)
Um dos mais importantes compositores brasileiros, o flautista e saxofonista é autor de temas imortais, como Carinhoso e Um a zero.
Hamilton de Holanda (1976)
Comparar o bandolinista aos mestres é polêmico, mas seu virtuosismo e inovações o colocam como a maior novidade desde Raphael Rabello.
Fonte:
Jornal Estado de Minas - EM Cultura
Publicação:24/04/2015