Francisco Mattoso - Fonte: IMS - Arquivo Nirez |
Celebramos hoje os 108 anos da história de Francisco de Queirós Mattoso, nascido em Petrópolis (RJ) em 8 de abril de 1913. Autor de várias composições gravadas por intérpretes famosos, aos cinco anos, ele já tocava de ouvido (usando apenas um dedo), as músicas que ouvia no gramofone da família. Formou-se em Direito, porém, preferiu seguir a carreira de compositor, onde foi extremamente bem sucedido.
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Mattoso é autor de muitos sucessos, entre eles três grandes clássicos da música popular brasileira: as valsas "Eu sonhei que tu estavas tão linda", com Lamartine Babo, e "Boa noite, amor" e a marchinha de carnaval "Pegando fogo". Teve como mais assíduo parceiro o também pianista José Maria de Abreu com quem compôs mais de 30 músicas. No início da década de 1930, já costumava rondar os corredores das emissoras de rádio da época. Em 1933, conheceu Noel Rosa por intermédio do Dr. Cid Pacheco. Compuseram no mesmo ano o samba "Esquina da vida", gravado por Mário Reis com o acompanhamento do piano de Nonô na Columbia e "Vai pra casa depressa (conhecida também como "Cara ou coroa")", que ficou inédita por muitos anos, só sendo gravada em 1963 por Marília Batista em LP pela Nilser.
Almirante, Francisco Alves, Carlos Galhardo também gravaram grandes sucessos de sua autoria, entre valsas, marchas e fox-canção. Em 1980, a cantora Gal Costa regravou com grande sucesso sua marcha "Pegando fogo". Em 1981, as valsas "Eu sonhei que tu estavas tão linda", com Lamartine Babo, e "Boa noite amor", com José Maria de Abreu, foram regravadas por Gilberto Alves no LP "O fino da seresta volume 2".
Francisco Mattoso faleceu precocemente, aos 28 anos, vitimado pela tuberculose, em 18 de dezembro de 1941, no Rio de Janeiro. Apesar do pouco tempo de vida que teve para registrar suas inspirações musicais, ele deixou mais de 50 composições. Entre elas, destacamos hoje seu divertido Choro, "Boa Vizinha", composto em parceria com Nonô, gravado em 14 abril 1939 por Almirante, Dante Santoro e seu conjunto regional e lançado pela Odeon em junho de 1939. Apreciem!
"Boa Vizinha" - (Francisco Mattoso e Nonô)
Eu moro numa casa que não tem conforto
Também pela aluguel não pode ser melhor
Eu venho do trabalho e chego semimorto
A vida para mim não pode ser pior
Eu tiro a minha roupa e visto o meu pijama
E pego no jornal para me distrair
Depois apago a luz e deito em minha cama
Mas fico a noite inteira sem poder dormir
Porque a gataria lá na vizinhança
Promove um barulho que é um inferno
E bem do outro lado tenho uma criança
E chora e berra do verão até o inverno
E tem na casa em frente a filha de um Belchior
Que num velho piano a noite se exercita
E desde que nasceu estuda a Cumparsita
É a toca na verdade cada vez pior
Passando duas casas numa gafieira
Uma charanga infame desafia o sono
No sábado e domingo e toda quinta feira
Gemendo toda noite como um cão sem dono
Tem um boteco perto que é um horror
Que só desliga o rádio quando o pau come
Sai tiro e sai facada e sai cada nome
Que dá pra encabular qualquer carregador
Fontes consultadas:
Dicionário Cravo Albina da Música Popular Brasileira