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23 de julho de 2020

Jorge do Fusa: um Choro de muitos nomes.

Garoto-  Foto: Acervo Jorge Mello- Divulgação.
Como celebração da sua genialidade e aniversário de 105 anos de nascimento recém completados, novas e belíssimas interpretações da obra memorável de Garoto estão sendo disponibilizadas por vários instrumentistas. 

Tanto pelo seu admirável desempenho enquanto compositor, como pelo seu talento de executante, Garoto influenciou a quase totalidade dos violonistas que chegaram depois. E além disto, ainda legou para para a música brasileira peças emblemáticas.

Músico por definição e berço,Albanese  é um dos criadores do Jequibau, 
ritmo de cinco tempos.
Entre estas, "Jorge do Fusa" que faz parte de um repertório obrigatório de todos que estudam o violão brasileiro.
Conforme informações citadas na publicação, Choros de Garoto  (editada em 2017 pelo IMS em parceria com o Edições SESC São Paulo com organização de Jorge Mello, Henrique Gomide e Domingos Teixeira), a peça concebida para violão solo foi preservada graças à gravação particular de Ronoel Simões. Sua primeira gravação foi no LP Garoto por Geraldo Ribeiro (Arlequim, 1980).
O que pouca gente sabe é que ela tem letra, escrita quando o compositor ainda era vivo, em parceria com Mário Albanese . O título "Jorge do Fusa" desagradava Garoto e para a versão cantada da música, deram o nome de “Amor Indiferença”. 

Como publicado em artigo assinado pelo próprio Albanese, a criação da letra "aconteceu no dia 22 da agosto de 1950 quando Garoto esteve em casa, na Rua Tupinambás 164, Paraíso/SP, ocasião em que coloquei letra na música Amor Indiferença e a transcrevi para piano na tonalidade de Mi bemol. Garoto adorou! A letra não perdoou nem mesmo a escala hexafônica, a dos tons inteiros! Tenho guardada, como uma verdadeira relíquia, a gravação de Amor Indiferença, em que ao piano fui literalmente amparado pela exuberância criativa do Garoto entrelaçando temas ao violão, com arte e espontaneidade".

Apesar do nome ter sido atribuída à versão com letra, a composição aparece com este nome em gravação instrumental, registrada pelo violonista, compositor e professor brasileiro, Silvio Santisteban em seu LP "O violão de Silvio Santisteban" (Gravadora Independente- Catálogo: 526.404.278).
Interessante também é o fato desta composição ter sido gravada por Baden Powell com outro nome. No LP Baden Powell, lançado em 1971 pela gravadora Barclay (França), esta composição aparece com o nome "Bom de dedo".

A letra  “Amor Indiferença”, assinada por Abanese traz os seguintes versos:

Foi com você que eu aprendi
amar fingindo tanta indiferença
Porque você, querida receia ter na vida
a desilusão que faz sofrer
Mas com você eu descobri
o amor que a gente quer pra vida inteira
Ainda guardo a forte sensação
de tê-la junto ao meu coração
Você e eu, eu e você
jurando amor e proclamando ser feliz
Noites de luar, uma praia junto ao mar
muito amor e muito amar

Você e eu, eu e você
nos despedimos sem porque, mais uma vez
Não existe agora nada entre nós 
que a indiferença de até outra vez
Você e eu, eu e você
jurando amor e proclamando ser feliz
Noites de luar, uma praia junto ao mar
muito amor e muito amar
Você e eu, eu e você
nos despedimos sem porque, mais uma vez
Não existe agora nada entre nós 
que a  indiferença de até outra vez

O tal Jorge
Segundo ainda nos relata o pesquisador Jorge Mello, no livro Choros de Garoto, no texto de apresentação impresso na contracapa do LP de Geraldo Ribeiro, J.L. Ferrete diz "ignoramos quem seja esse Jorge". Mas Mello acrescenta que, de acordo com o que apurou em suas pesquisas, Jorge seria o violonista Jorge Santos (nome artístico de Jorge Geraldo do Espírito Santo), integrante do regional de Waldyr Azevedo e tio do violonista Bola Sete. Fica aí uma referência para nossa curiosidade.

Mas afinal, por que "fusa"? 
Por ser "fusa" uma figura musical, presentes nas escalas de tons inteiros da peça, muitos acreditam que o nome desta deriva exatamente deste fato. Porém, como nos relata Mário Albanese em seu livro "Garoto, o gênio das cordas", O referido Jorge fazia parte da turma do compositor e nos encontros promovidos pelos amigos, sendo muito agitado aprontava uma cerca "fuzarca", nome popular dado à confusão e desordem. Daí derivou o codinome "Fusa".

Entre as várias gravações de "Jorge da Fusa", elegemos como audição deste post, uma recente gravação realizada pelo compositor e violonista associado ao Clube do Choro de BH, Carlos Walter e realizada  num diálogo musical com o violão de 8 cordas do pernambucano Ezequias Lira (RN), Professor de violão e Música de Câmara da UFRN e Doutor em violão pela Universidade de Montreal - Canadá. Apreciem:

Carlos Walter e Ezequiel Lira utilizam captação GT02 da Harmonik e violões feitos pelos luthiers Lineu Bravo e Lúcio Jacob. 

A obra Garoto – O Gênio das Cordas”, lançado em 2014 pela Editora SESI nos permite compreender um pouco mais da criatividade e habilidade técnica de Garoto. O livro acompanha um CD de música, com nove canções e foi idealizado e organizado pelo próprio Mário Albanese (paulistano nascido em 31 de outubro de 1931) maestro, professor de música, advogado, jornalista e membro catedrático da Academia Internacional de Música (AIM), entre outras instituições.