Benedito Lacerda |
Iniciamos a semana reverenciando um dos mestres da música no Brasil: Benedito Lacerda que completaria 117 anos, no último sábado (14). Ao lado de nomes como como Patápio Silva, Pixinguinha e Altamiro Carrilho, ele é uma das grandes figuras de uma linhagem de virtuoses da flauta brasileira.
Benedito começou a aprender flauta de ouvido aos oito anos e iniciou suas atividades musicais como integrante da banda Nova Aurora em Macaé (RJ), sua cidade natal. Aos 17 anos, transferiu-se para a cidade do Rio de Janeiro, onde passou a residir no bairro do Estácio, famoso por abrigar sambistas e batuqueiros. Estudou flauta sob a orientação de Belarmino de Sousa, pai do compositor Ciro de Sousa, e também no Instituto Nacional de Música, onde diplomou-se em flauta e composição.
Em 1922, Lacerda ingressou na Polícia Militar, onde prosseguiu sem abandonar suas atividades musicais, participando da banda do batalhão. No ano de 1925, foi aprovado em teste no qual executava a parte de flauta da ópera "Il Guarany", de Carlos Gomes, além de obter sua transferência para a Escola Militar do Realengo, como músico de primeira classe, tornando-se solista.
Em 1927 Benedito Lacerda deu baixa do serviço militar, passando a viver de suas atuações em orquestra de cinemas e teatros. A partir daí, além de outros grandes feitos musicais, comandou um dos mais famosos e importantes Regionais da história da indústria fonográfica, o qual levava o seu nome e que contava com músicos excepcionais como Dino e Meira (violões), Gilson (pandeiro), Canhoto (cavaquinho) e do próprio Lacerda que, além de flautista, atuava também como arranjador.
O grande Regional de Benedito Lacerda com Popeye do Pandeiro, Dino 7 cordas, Lacerda, Canhoto e Meira. Coleção Jacob do Bandolim/Acervo MIS. |
Lacerda e Pixinguinha: um dos maiores duetos da MPB. |
O Regional de Benedito Lacerda é considerado por estudiosos, críticos e apreciadores da música brasileira, a mais importante, criativa e virtuosística base de acompanhamento na história da MPB. Atuando com seu Regional no acompanhamento de históricas gravações, ele deixou registros fonográficos com Sílvio Caldas; Carmen Miranda; Orlando Silva, Noel Rosa e Francisco Alves, dentre tantos intérpretes da nossa música. Ao lado do mestre Pixinguinha, formou um dos maiores duetos da história: Benedito na flauta e Pixinguinha nos memoráveis contrapontos com seu sax tenor.
Em que pesem algumas controvérsias relacionadas a parcerias com Pixinguinha, o mestre Benedito Lacerda compôs alguns clássicos da Época de Ouro de nossa Música Popular, como ʺA Jardineiraʺ , em parceria com Humberto Porto; ʺA Lapaʺ , com Herivelto Martins; ʺEva Queridaʺ com Luiz Vassalo; ʺVou Vivendoʺ, além ʺSofres porque queresʺ, ʺ1x0ʺ e ʺIngênuoʺ com Pixinguinha.
Benedito Lacerda faleceu em 16 de fevereiro de 1958, vitimado por um câncer num domingo de Carnaval, ele que tanto sucesso obtivera em vários carnavais...
Neste vídeo da abertura da programação de shows dos vencedores do Instrumental Sesc Brasil 2014, o violonista Lucas Telles, associado ao Clube do Choro de BH e contemplado com o prêmio, se apresenta acompanhado por Luisa Mitre (piano), Lucas Ladeia (cavaquinho), Bruno Vellozo (contrabaixo acústico) e Nailor Proveta (clarinete) na apresentação de "Pagão" (Benedito Lacerda e Pixinguinha).
Destacamos hoje na Estante do Chorão, a obra "Benedito Lacerda e a saudade ficou", obra de autoria do escritor e pesquisador de música popular brasileira, Jadir Zanardi, lançada em 2009, pela editora Muiraquitã.
Nas 140 páginas do livro, você encontra histórias inusitadas do compositor fluminense, vividas ao longo de sua trajetória, desde o nascimento em Macaé, com as dificuldades para o sustento, até sua primeira gravação como cantor, seus sucessos, os carnavais, os parceiros mais constantes como Pixinguinha, Herivelto Martins, Roberto Paiva e os amigos como Noel Rosa, Carmen Miranda, Jorge Goulart e tantos outros.
Sobre o autor: Desde cedo, Jadir Zanardi tomou gosto pela pesquisa da nossa música. Formado em Direito e em Gestão de Recursos humanos, frequentou cursos sobre história da música brasileira na Fundação Casa de Rui Barbosa, e em outras instituições no Rio de Janeiro.